segunda-feira, 21 de abril de 2008

Recortes de Imprensa: Netlabels no JN (2005)

Andava eu nas minhas pesquisas pela net quando tropecei num artigo do Jornal de Notícias, datada de Dezembro de 2005 onde era abordado o tema netlabels e da qual fazem parte testemunhos de dois dos membros do BPF: O Pedro Leitão (The Caped Crusader) e o Tiago Sousa. Sendo assim decidi transcreve-la até porque continua pertinente e actual:

"Circuito alternativo merece atenção de editoras multinacionais
Distribuidoras gratuitas de música 'on-line' apostam em projectos ousados

Cláudia Luís

"Em Portugal, o fenómeno das 'netlabels' tem ainda pouca expressão. No entanto, 2005 foi um excelente ano para a sua divulgação, sobretudo graças à explosão de serviços como o iTunes". A constatação de Pedro Leitão, responsável pela Test Tube, uma das editoras on-line portuguesas, não é independente da previsão mais provável "Isto vai crescer exponencialmente".

Para já, o universo 'netlabel' "continua a ser familiar entre as pessoas ligadas ao meio musical, sendo ainda desconhecido do grande público", acrescenta Tiago Sousa, da Merzbau.

Esclareça-se 'netlabels', 'on-line labels' ou 'web labels' são distribuidoras de música em formato digital, maioritariamente em mp3, na Internet. A maioria disponibiliza os conteúdos gratuitamente - não há objectos físicos - e aposta em criações alternativas ao circuito discográfico tradicional voltado para o 'mainstream'.

Pode dizer-se que os serviços 'on-line' dedicados à música existem praticamente desde o aparecimento dos computadores pessoais. Contudo, o fenómeno das 'web labels' instalou-se a partir do momento em que o consumo de música em formato mp3 se popularizou, no final da década de 90. Entre os pioneiros, a nível mundial, constam a Kosmic Free Music Foundation, cuja actividade se prolongou entre 1991 e 1999, a Five Musicians, entre 1995 e 2000, e, a funcionar desde 1997, a Tokyo Dawn Records. Em Portugal, coube à Enough Records desbravar caminho.

Multinacionais aderem

"As 'netlabels' são fruto da revolução informática e apresentam-se como mercado alternativo ao da comercialização de mp3, uma vez que fazemos uma distribuição gratuita", afirma Tiago Sousa. "As próprias editoras multinacionais quiseram apostar neste mercado e algumas delas pretendem criar 'sublabels' para o lançamento de EPs e singles promocionais", acrescenta Pedro Leitão.

Recorde-se que o fenómeno advém da alteração da forma de consumo de música "O mercado de 'downloads' legais disparou no primeiro semestre de 2005, sobretudo na Europa", assegurou a International Federation of Phonographic Industry.

No caso da Test Tube, Pedro Leitão traça um balanço muito positivo "Uma média de 3 mil visitantes por dia, sendo a sua maioria estrangeiros".

Os leitores áudio digital vieram para ficar e o próprio director-geral da Associação Fonográfica Portuguesa, Eduardo Simões, declarou recente- mente ao JN que se assiste ao "maior desafio e à maior oportunidade de sempre para a indústria fonográfica, no sentido da transformação de uma indústria de suportes numa indústria de direitos".

Direitos protegidos. As 'netlabels' salvaguardam a propriedade intelectual dos artistas através do serviço 'creativecommons license', fundado em 2001na Internet.

Fenómeno 'underground'

O mercado aponta no sentido do crescimento das 'netlabels', assim como a experiência e as melhores expectativas de alguns dos seus responsáveis, nomeadamente, devido ao facto de serem lojas virtuais gratuitas. Mas Pedro Leitão sublinha que a verdadeira natureza deste projecto não é o da "grande exposição mediática isso seria estranho. Tem tudo para crescer, mas os próprios músicos e intervenientes envolvidos gostariam que se mantivesse enquanto fenómeno 'underground'".

O responsável lembra que "as 'netlabels' nasceram como contracultura, como forma forma de disponibilizar cultura gratuitamente e para todos, contra o mercado 'mainstream'".

Entretanto, vão sucedendo casos de músicos que começam por divulgar o seu trabalho em 'weblabels' e acabam por ser convidados por editoras independentes para editar em suporte físico. Pedro Leitão não tem dúvida quanto ao potencial "efeito trampolim" destas editoras.

Desobrigação financeira

Mercado cresce em Portugal

A maioria destas montras identifica os princípios subjacentes à sua actividade nos 'sites' (ver caixa). No caso da Test Tube, privilegiam-se "novas linguagens, projectos não convencionais e originais com qualidade estilísca e empenho na sua realização", diz Pedro Leitão.

O 'site' da Merbau vai mais longe e apresenta o seu manifesto "Num país como Portugal, em que é muito difícil obter lucro através da venda de discos, a desobrigação financeira que uma 'netlabel' oferece pode ser um bom meio". Este "desprendimento financeiro permite assim fazer apostas mais ousadas", realça Tiago Sousa, consciente, no entanto, da principal desvantagens do serviço. "Além de dependermos da boa vontade das pessoas, o mp3 é um formato mais prático, mas comprime demasiado as músicas, negligenciando a sua qualidade original. Nunca pagaria por um!"

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