No meio de toda esta efervescência criativa, Jorge Nunes abre o ano de 2009 com uma bomba em estilo "Comprimido"; qual complexo químico ou arma de arremesso a lembrar o Dr. Robert Moog - esteja ele onde estiver desejando que esteja em paz - que continua a valer a pena ter criado nos idos 60 aquele extraordinário aparelho de som sintetizado. O Moog. É ele que serve de primeiro veículo transmissor ao universo em turbilhone que aqui vem comprimido. Ele e mais alguns pedaços arrecadados ao espaço e ao tempo por um moderno iPod de toque. Mas adiante que a loucura não espera; Desespera.
Já descomprimido, começa-se a esperada viagem por ambientes meio alucinados, soturnos, os mesmo que servem de itinerário a boa parte da história a solo de Jorge Nunes. São os típicos momentos de alucinação. Associe-se Kerouac, Burroughs e restante companhia do alegre desvairo. Outros dirão bizarro. Com maior ou menor complexidade, aplicando com originalidade os princípios da escrita autêntica de Kerouac à sua música, em "Comprimido", Jorge Nunes privilegia não só o som como o não-som, ou melhor, o silêncio, a forma como este perspectiva a paisagem e deixa espaço para distinguir o que nos é dado a imaginar: mensagem; uma complexidade; a perplexidade que se mantêm.
Banda sonora de um ambiente ficcional, "Comprimido" obriga a relevar, oferece-nos o tempo para imaginar os estranhos cenários que coexistem, perceber as personagens - pelo menos tentar, participar e perigosamente ficar. Porque o tempo não passa. Porque os relógios perderam os ponteiros. Estranho e admirável espaço de meditação este, de deambulação pela mente de mundos e coisas quimícas; muitas coisas; todas. Sempre imaginário, mais ou menos irreal, abre-se um mundo de mistério, um enredo de personagens estranhas e perdidas, um mundo de mistério adensado pelas palavras de Kerouac balbuciadas pelas máquinas do homem. Disformes máquinas. Isto, enquanto várias cenas se repetem em diferentes episódios de um mesmo filme, numa construção típica do copy/paste da escrita fantástica de Burroughs. São seis faixas de um filme só, que se completam e sobrepõem num eterno e contínuo retorno; um ciclo vicioso de onde não se sai nunca, a menos que a fome ceda.
No fim, já perto da luz que nos há-de fulminar, fica a praia de Aljezur, o tranquilizante para espíritos em sobressalto. Para espíritos por saciar. Até que a fome ceda.
Escrito por Rui Dinis em A Trompa

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